quinta-feira, 4 de outubro de 2012

Investimento: quanto captar


Nem sempre vale a crença do “quanto mais dinheiro melhor”. Veja o que fazer para preservar uma captação eficiente.
Nos últimos meses, tenho observado um número cada vez maior de startups procurando grandes tickets de investimento. Obviamente, grande é algo relativo e em muitas situações “quanto mais dinheiro melhor”. Neste artigo, porém, gostaria de abordar os problemas sérios que essa situação pode gerar.
Quando uma empresa consegue assegurar umarodada de investimento com um ou mais investidores, ela necessariamente define o valuation de entrada desse capital e estipula um preço para o aporte dos investidos. Em outras palavras, uma vez que um investidor paga um valor por uma porcentagem de participação de uma empresa, essa proporção de dinheiro versus participação torna-se uma referência para captações futuras.
Se a empresa se valorizar bastante (ou seja, aumentar significativamente o seu valuation), na próxima rodada de investimento os investidores deverão pagar um valor maior para a mesma quantidade de participação. No entanto, caso a empresa não se valorize ou acabe em uma situação em que é forçada a captar recursos em um valuation mais baixo, o preço pago pela participação pode acabar sendo menor do que o valor do primeiro aporte.
Na primeira situação, ocorre exatamente o que todo empreendedor e seus investidores esperam, ou seja, o investimento está dando frutos e se valorizando. A segunda hipótese, por outro lado, significa que o investimento anterior está sendo precificado em um valor menor do que o original, ou seja, as ações adquiridas no primeiro aporte se desvalorizaram. Ainda em relação à última situação, algumas considerações importantes devem ser feitas: (i) nenhum investidor ficará satisfeito com uma nova transação atestando a perda de valor; e (ii) as projeções elaboradas para justificar o primeiro valuation não se concretizaram.
Entre os inúmeros problemas decorrentes dessa situação, a experiência mostra que, na maioria dos casos, ou a empresa simplesmente não consegue captar o que almeja, ou, caso a captação aconteça, quem “paga o pato” são os empreendedores, sendo diluídos de forma desproporcional à sua participação para compensar a diferença em relação ao preço pago no primeiro aporte.
A lição a ser tomada neste caso é que captar recursos num valuation muito alto pode resultar em uma grande dificuldade para captar o próximo aporte. A pressão sobre os empreendedores para que o valuationpago seja justificado significa que as metas a serem atingidas serão agressivas e, provavelmente, muito difíceis de serem atingidas.
Em resumo, a preocupação do empreendedor em preservar a sua participação no momento de um aporte é absolutamente importante, levando em conta que quanto maior for o valuation menor será a sua diluição. Por outro lado, partir de um valuation alto significa que este deverá ser ainda mais alto para atrair o próximo investimento. Se isso não acontecer, depois do aporte seguinte, é possível que a diluição do empreendedor seja acelerada ou, pior, signifique o fim de um sonho.
Então, o que fazer para preservar uma participação atraente? Na maioria dos casos, funcionam bem uma captação menor (com exceção dos casos que não comportam uma redução proporcional) ou uma cláusula de redistribuição do capital a ser aplicada em um segundo momento, capaz de alinhar os interesses. Outras soluções, em relação às quais tenho restrições, podem ser dívidas conversíveis, opções de compra de participação ou ainda uma cláusula antidiluição.
Não existe fórmula única e tampouco se podem colocar todas as situações em uma vala comum. O grande segredo da captação eficiente é garantir que, se a empresa vai bem ou não, os interesses de todos os sócios, empreendedores e investidores estejam mais alinhados quanto possível. Se alguma das partes for excessivamente beneficiada no momento do investimento, não apenas aumenta a pressão por resultados, como diminuem drasticamente as chances do investimento dar certo.

Fonte: Endeavor MAG, 04/10/2012.

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