Do que é feito o empreendedor? Empreendedores já nasceram predestinados? Uma pessoa normal pode, de repente, acordar empreendedor?
Só que Jorge era um lixeiro, sem ter sequer completado o ensino médio, sem dinheiro, sem nenhuma influência familiar para ser algo grande na vida. Para ele, sua vida se resumia a acordar às 8 da noite, jantar, ir para o trabalho e passar a madrugada recolhendo lixo nas ruas, para depois voltar para casa, brincar com o filho pequeno, almoçar e voltar a dormir. Tinha um salário para viver uma vida simples e humilde e não tinha nenhuma aspiração de carreira. A ideia surgiu numa noite, quando prestou um pouco mais de atenção ao seu mecânico trabalho de coleta de lixo. Era um processo simples, quase todo automatizado. Em algumas cidades, o sistema de coleta de lixo funciona da seguinte maneira: em cada quarteirão existe uma grande caixa de plástico, com tampa e dotado de rodinhas, na rua, encostada no meio-fio. Para jogar o lixo, as pessoas vão até esta caixa, abrem a tampa e depositam seus sacos de lixo lá dentro. De madrugada, os caminhões passam pelas ruas e param ao lado de cada uma destas caixas. O lixeiro só tem o trabalho de empurrar a caixa para conectar a um dispositivo na traseira do caminhão, quando então este dispositivo é acionado, levanta e vira a caixa para que a tampa se abra e todo o conteúdo escorregue para dentro do caminhão. Depois de vazia, a caixa volta à situação inicial, o lixeiro a destrava e a recoloca no seu lugar na rua. Em seguida, o caminhão se dirige ao próximo quarteirão e todo o processo se reinicia.
As semanas se passavam e Jorge já não aguentava mais aquela ideia martelando a sua cabeça, cada dia mais forte, mais insistente, mais cheia de detalhes que o convenciam que a ideia era boa. Pois uma noite, ele teve coragem e humildemente pediu ao seu supervisor para autorizá-lo a sair naquela noite com uma caixa vazia já conectada ao caminhão. Não se sabe porque o supervisor de Jorge autorizou aquela mudança de procedimento, até porque Jorge nem sabia explicar o que queria fazer. Quando chegou ao primeiro quarteirão, ele destravou a caixa vazia, colocou-a no lugar da caixa cheia e conectou a caixa cheia no dispositivo. Então, mandou o motorista seguir e enquanto o caminhão se movimentava ele acionou o dispositivo para esvaziar a caixa. Ao chegar ao quarteirão seguinte, a caixa já havia sido esvaziada e Jorge então troca novamente a caixa para reiniciar todo o ciclo. A simples ideia de Jorge de usar o mesmo tempo de esvaziamento da caixa para o deslocamento do caminhão fez sua equipe encerrar o trabalho todo na metade do tempo que os outros colegas normalmente levam. Logo sua ideia foi implantada em todas as equipes de coleta e Jorge ganhou um aumento no salário.
Não sei o que aconteceu depois com Jorge. Talvez tenha ficado muito orgulhoso, mas não tenha feito mais nada diferente depois. Pode ser que aquela primeira experiência o estimulou a trazer novas ideias para a empresa. Pode ser que tenha se tornado um empreendedor no setor de serviços públicos. Só sei que ele resolveu ouvir o chamado e não se arrependeu. E você, está ouvindo o chamado do empreendedorismo? Se já for empreendedor, tem valorizado os intraempreendedores da sua equipe?
Fonte: Endeavor MAG, 16/10/2012.
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