Somos capazes de criar projetos grandiosos, mas ainda temos espaços para ocupar por Sônia Hess de Souza
Sou filha de uma grande empreendedora. Adelina Hess de Souza, minha mãe, transformou uma dificuldade em oportunidade de negócio. Fundou, em 1957, a Dudalina, uma companhia que hoje emprega mais de 2.000 pessoas. Tudo começou por acaso. Ela já tinha seis filhos quando meu pai comprou um grande lote de tecido para a loja que os dois administravam na cidade de Luis Alves, no interior de Santa Catarina. A mercadoria encalhou, e ela decidiu fazer camisas para vender.
A empresa cresceu, sempre com a minha mãe no comando. Depois de fundar a Dudalina, ela teve mais dez filhos. Isso não a impediu de continuar empreendendo. Era multitarefa antes de o termo entrar na moda. Mulheres como a minha mãe não desistem diante das dificuldades. Elas conseguem ver além dos problemas e enxergar as oportunidades. Esse é o espírito que todo empreendedor precisa ter.
Com minha mãe, também aprendi que precisamos ter a preocupação de gerar impacto social com o nosso trabalho. Hoje sou jurada do prêmio Cartier Women’s Initiative Awards, que reconhece projetos inovadores feitos por mulheres ao redor do mundo, e me deparo com iniciativas inspiradoras. Em 2012, o trabalho de duas empreendedoras em Ruanda, na África, me impressionou. Os absorventes no país são itens caros, e muitas mulheres deixam de sair de casa quando estão menstrua¬das. As empreendedoras desenvolveram um absorvente alternativo, feito com fibra de bananeira, 70% mais barato que as marcas internacionais vendidas no país. Com isso, resolveram um problema social.
MINORIA NO PODER Já somos responsáveis por metade dos novos negócios que surgem no Brasil, ocupamos a maioria das vagas nas universidades, chegamos à Presidência da República. Mas, apesar de tantos movimentos, deveríamos ter mais mulheres ascendendo a posições de poder.
Basta olhar as fotos em uma revista de negócios ou circular entre eventos promovidos para CEOs. Ainda estamos em minoria. Às vezes me pergunto: será que as mulheres realmente querem ser presidentes de empresas? Assumir um cargo como esse é uma tarefa solitária, que exige enorme dedicação e uma boa dose de abdicação. Nem todas estão prontas para isso.
Em 2012, a Dudalina fez um processo de seleção de trainees. Recebemos mais de 500 currículos — 40% deles de mulheres. Em meu esforço de deixar o board da companhia mais feminino, duas das cinco vagas foram preenchidas por moças. Na hora de decidir se queriam seguir na empresa, elas disseram não: uma condição para fazer parte do programa era morar em Blumenau (SC). Os homens não se importaram de mudar de cidade. Por que elas passaram pelo processo e, no final, não tiveram coragem de assumir o desafio?
Somos capazes de fazer coisas grandiosas, mas ainda precisamos nos aprimorar se quisermos ocupar novos espaços. Há alguns aspectos que merecem atenção. Se você é mulher, é importante que:
• Pare de olhar para os lados, olhe para a frente. Não pense no colega que é homem e foi promovido. Trabalhe para se desenvolver. Seja mais objetiva e tome as decisões motivada pela razão, sem se deixar contaminar tanto pela emoção.
• Aprenda a fazer networking e use isso a seu favor. Não tenha vergonha de aparecer, expor o que pensa, se promover.
• Sonhe um sonho pronto. E não tenha medo de arriscar.
*Sônia Hess de Souza é presidente da Dudalina. É também presidente do Lide Mulher, jurada do prêmio Cartier e conselheira do Women’s Forum da Ernst & Young
Fonte: Revista Pequenas Empresas & Grandes Negócios, 11/03/2013.
http://revistapegn.globo.com/Revista/Common/0,,EMI332510-17162,00-O+QUE+AS+MULHERES+QUEREM.html
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