Sobre a ideia, você sabe como é, de um jeito ou outro ela aparece na
sua cabeça. Pode vir da observação sistemática de determinada situação;
pode ser uma necessidade pessoal que também é de outros; pode ser um
click criativo ao andar pela praia. Pronto! Agora a ideia está lá e
você quer fazer o negócio acontecer, mas não sabe por onde começar. Já
assistiu “Campo dos Sonhos” três vezes apenas para saborear as passagens
em que um jovem Kevin Costner escuta a célebre frase “If you build it
he will come”. Mas a verdade é que isto só funciona no cinema. Na
vida real, esta declaração é muito mais uma prece do que um dogma.
O melhor jeito de tirar a ideia da cabeça e colocá-la no papel você já
conhece: BMG – Business Model Generation, aquela metodologia trazida à
baila por Alex Osterwalder. Primeiro divirja. Construa não apenas um
canvas BMG, mas várias versões. Em cada um dos 9 blocos do canvas
procure fazer algo diferente da praxe. Depois convirja. Dentre todos
os canvas gerados, escolha um único que mais tenha a ver com você, com o
momento, com as melhores possibilidades de fazê-lo acontecer.
Agora, tenha muito claro em mente que este canvas representa apenas um
roteiro de ficção. A ideia não dará certo apenas porque está ali
descrita, ou porque parece realmente boa. O canvas é um grande conjunto
de hipóteses que precisam ser testadas, validadas ou refutadas. Só há
uma única entidade em todo o processo que tem certeza sobre o que
funcionará e como funcionará. Esta entidade não está no time do projeto
e não é controlável. Ela se chama “Mercado”. Tal como no slogan
daquela série de TV: “A verdade está lá fora”! Você precisa sair do
conforto da sua sala, sair da frente do computador, do editor e das
planilhas. Você precisa ir para a rua testar as hipóteses.
O melhor jeito para tirar uma ideia do papel é colocá-la no mercado me
foi ensinado por uma figura gente-boa do Vale chamado Steven Gary
Blank. Ele é o culpado por vários e vários sucessos que têm aparecido
por aí. Steve Blank cunhou o método de “começar” que revolucionou os
costumes das startups mundo afora: Customer Development.
A vida de Blank foi construir negócios próprios e ajudar outros a
construírem os seus. Por vezes se conseguia chegar ao IPO e por outras a
falência era vergonhosa. Ele percebeu o que funcionava e,
fundamentalmente, o que não funcionava. Por exemplo, viu que a maior
razão pela qual startups quebram é porque “escalam” antes do tempo.
Mais ou menos como se o avião decolasse antes de todo seu projeto ter
sido validado. Em pleno voo, descobre-se que as asas têm o dobro do
tamanho que deveriam ou que a turbina tem um terço da potência que
precisava. Às vezes dá para consertar com o avião voando... Na maior
parte das vezes não dá e... o avião cai.
Em seu livro “The Four Steps to the Epiphany” e no recente “The Startup
Owner’s Manual”, Blank descreve o princípio fundamental do sucesso para
startups: acertar o projeto antes de decolar. Para isso, é necessário
errar de forma sistemática, errar com critério, dentro de um roteiro,
testando e aprendendo direto do mercado.
O fato é que a empresa que você projetou nunca (isto mesmo, nunca!)
será aquela que chegará aos muitos milhões. Haverá mudanças que podem
ser bem pequenas e/ou alterações radicais em conceitos fundamentais do
negócio. Saiba desde o tenro início que você vai errar, portanto,
procure errar rápido, pequeno e barato. Rápido para não perder o
timing; pequeno para que não muitos saibam o que houve; e barato para
não quebrar.
A partir do canvas escolhido, você destaca as mais cruciais hipóteses
que se não funcionarem o modelo fracassará. Seja bem criterioso ao
priorizar. Monte testes para cada uma destas hipóteses. E estes testes
não devem ser feitos meia-dúzia de vezes com familiares e amigos, mas
com centenas, se possível com milhares de potenciais clientes.
Lembre-se de que nos dias de hoje, via web, fazendo uso arguto de redes
sociais, isto é bastante plausível.
Customer Development tem diretamente a ver com construir protótipos – o
tal do MVP (Minimum Viable Product) na linguagem do Blank – e
colocá-los cara a cara com o mercado para saber o que ele diz. Elogios e
interesse de um lado, críticas e rejeição do outro, tudo é muito bem
vindo. Interesse valida determinada hipótese, enquanto que a rejeição
refuta alguma outra. E vamos descobrindo o que de fato o mercado
valoriza e o que despreza solenemente, não importa o quão idiota ou
genial aquilo parecia ser no papel. Só ele mercado sabe a verdadeira
verdade. Os testes de hipóteses, portanto, precisam ser agudos, do tipo
“Sim” ou “Não”, “Preto” ou “Branco”... O que de pior pode acontecer é a
indiferença, a resposta blasé ou a simples não resposta, porque aí
ficamos totalmente no escuro. Nestes casos, o único jeito é recriar o
teste e testar novamente!
E nada de pesquisa quali, pois os novos tempos exigem quanti! O que
conta são as contas. Quando, por exemplo, 87% da massa de testes de
1000 pessoas ignora seu principal diferencial competitivo (ou melhor, o
que você supunha sê-lo), está na hora de voltar para a prancheta e
redesenhar o projeto. O derradeiro teste envolve dinheiro: as pessoas
estão dispostas a pagar por seu produto? E quanto pagariam? Não
queremos inventar (muito menos dispender recursos para decolar) uma boa
ideia que não é vendável. O jogo é de amostragem e correlação. A
estatística da qual você fugiu a vida toda veio ao seu encontro.
Procure um acadêmico que possa te ajudar. Eles estão por aí ávidos por
esta chance.
Entendido o verdadeiro dilema problema/solução, as condições de
contorno do cliente, a melhor forma de distribuição, enfim, o melhor
arranjo possível para os 9 blocos do canvas; feitos os testes, validadas
e refutadas todas as principais hipóteses, modificado adequada e
repetidamente o projeto, agora e somente agora, você pode começar a
pensar na decolagem, a planejar o voo, a buscar dinheiro (seu ou dos
outros) para lançar de fato a empresa no mercado.
Como diria o velho Blank, uma startup é uma empresa que, não importa a
idade, ainda busca por um modelo de negócios que funcione bem e cujas
hipóteses tenham sido testadas, validadas e devidamente adequadas antes
do dinheiro acabar. Pense grande, comece pequeno e jamais confunda
testosterona com estratégia!
Fonte: Endeavor MAG, 15/08/2012.
http://www.endeavor.org.br/endeavor_mag/start-up/plano-de-negocio/da-ideia-para-o-papel-para-o-mercado
Fonte: Endeavor MAG, 15/08/2012.
http://www.endeavor.org.br/endeavor_mag/start-up/plano-de-negocio/da-ideia-para-o-papel-para-o-mercado
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