Existe uma metáfora comum para a Visão que é a de sonho. Não gosto desta metáfora. Considero Visão e Sonho de naturezas diferentes. Para mim, uma Visão é antes de tudo uma provocação. Uma ou mais. Uma ou mais proposições provocativas.
Nas palavras do Professor David Cooperider, da Case Western University:
“Uma proposição provocativa é uma declaração que cria uma ponte entre o
melhor do ‘que já é’ com nossa especulação ou insight ‘do que deveria ser’. Ela é provocativa ao ponto de estender o reino do status quo,
desafiar premissas comuns e rotinas, e sugerir possibilidades reais que
representam possibilidades desejadas para a organização e suas
pessoas”.
Em 1994, Collins & Porras criaram um conceito que adoro chamado BHAG – Big Hairy Audacious Goal.
Algo como “Objetivo Audacioso, Grande e Cabeludo”. Algo que é nascido
da vontade, da coragem, da audácia, mas que acima de tudo é um Objetivo. Que nos desafia a realizá-lo. Que nos impulsiona nas horas de desânimo.
Nunca vou esquecer a primeira vez em que cheguei escalando ao alto de
uma montanha. Foi o ponto culminante de um ano de preparação em uma
academia especializada, dezenas de horas de aula, um investimento
considerável em equipamento e a cuidadosa seleção e contratação do guia a
quem entregaria minha vida por algumas horas. Começou com um filme.
Assisti a sequencia inicial de Missão Impossível II e falei pra mim
mesmo “quero fazer isto um dia!” Só que tinha um problema: para fazer
“isto” eu teria que virar um alpinista. E isto não seria fácil. Mas eu
tinha sido provocado...
Visão, por mais paradoxal que possa parecer, não é imutável, é um alvo
móvel que se constrói da parte para o todo. Uma visão, para ser
realmente útil como um destino a ser alcançado, deve ter muito foco. E
isto passa por entender claramente quais são as áreas chaves de
resultado onde teremos que colocar o máximo de nossa atenção na
construção deste futuro.
E cada uma destas partes tem que ser cuidadosamente refletida e
refinada à medida do avanço. Em pouco tempo descobri que o que eu
realmente queria se chamava escalada esportiva. Que eu não queria fazer
expedições ou aprender técnicas exóticas como dormir pendurado, escalar
gelo ou cavernas – queria uma diversão de fim de semana. Que não queria
aprender grandes técnicas artificiais – queria subir usando a rocha como
apoio e meu corpo como ferramenta. Os equipamentos estariam lá apenas
para segurança. Entendi que não queria fazer parte de uma comunidade de
alpinistas – contrataria guias especializados quando necessário. Defini o
quanto de risco queria correr (não era muito...).
Pouco a pouco minha Visão foi ganhando dimensões de desenvolvimento,
detalhes, métricas... E meu esforço se direcionando. Sua forma foi se
alterando, ficando mais palpável, mais acionável, a cada dia. O plano
para realizá-la foi ganhando corpo, prazo, orçamento. Meu entusiasmo
cresceu. O pensamento voltava, repetido, várias vezes por dia.
Para conseguir escalar tive que ficar forte fisicamente. A ponto de
conseguir sustentar meu peso com dois dedos durante vários segundos ou
de me elevar usando apenas o dedão de um pé como ponto de impulso. Tive
que aprender a manejar equipamentos estranhos com as pontas dos dedos
com as mãos para trás do corpo, no frio, no vento. Tive que aprender a
dar nós e calcular quanto uma corda iria distender se eu caísse. Tive
que aprender a ler mapas e vias. Tive que ler livros, manuais e ouvir
muitas orientações de pessoas mais experientes. Machuquei-me um bocado! E
um dia, enfim, tive que ter a coragem de me apresentar ao pé da
montanha um pouco antes do nascer do sol...
No fim, cheguei lá do meu jeito, dentro dos limites em que consegui
desenvolver minhas competências, com enorme prazer, proporcional ao
esforço realizado. Minha visão não era mais uma descrição abstrata de um
futuro improvável, um desejo ou um sonho. Era real. Era bastante
diferente da cena do filme que a inspirou, mas era a minha expressão de
sucesso.
E a Visão da sua empresa: é provocadora?
Fonte: Endeavor MAG, 09/08/2012.
http://www.endeavor.org.br/endeavor_mag/gente-gestao/cultura-corporativa/sua-visao-e-uma-provocacao
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